Redação Jornalistica I
Chuva causa transtornos em toda a cidade de Goiânia
"Estudei uma semana inteira para prova e acontece isso" diz estudante presa no trânsito.
Por: Nilma de Jesus Oliveira
Nesta quinta-feira(04) trânsito vira um caos após fortes chuvas, os alagamentos causados por ela gera grande frustração para a população goiana. Carros alagados, motoqueiros sendo levados pela enxurrada, acidentes por todos os lados, essa é a situação em que Goiânia se encontra toda vez que há fortes chuvas
A estudante de direito Yasmim Miranda que estava a caminho da faculdade relata estar chateada com a situação, pois teria uma prova importante no dia, ela diz "Esse é um momento muito complicado porque é dia de fazer prova e se eu não chegar a tempo vou ter que pagar taxa para fazer prova substitutiva, estudei uma semana inteira para a prova e acontece isso"
Grupos de WhatsApp tem grandes compartilhamentos de fotos e vídeos de ruas totalmente cobertas pela chuva, quem estava no trânsito nesta tarde levou muito tempo para chegar ao seu destino. Um percurso de 6km que geralmente levaria de 10 a 15 minutos virou um tempo estimado de 1 hora e causou revolta para os motoristas.
Quem estava se locomovendo de ônibus sofreu um pouco mais para chegar em seu destino, além de enfrentar um trânsito horrível quem estava esperando nas plataformas de embarque como o ônibus 037 que sai do Terminal Padre Pelágio com o destino ao Terminal Hailé Pinheiro teve que esperar pacientemente 1 hora e 30 minutos para que o ônibus passasse. Muitos passageiros que pegaria essa linha decidiram optar por ir a pé mesmo debaixo da chuva. Até para chamar aplicativos como Uber e Pop não estava compensando, pois além do trânsito estar lento os valores estavam altíssimos e não caberia no bolso de todos.
O que a população espera é a construção de sistemas eficientes de drenagem para que quando houver chuvas intensas como esta as ruas não fiquem alagadas e não haja atrasos no trânsito. O relato de um motorista que estava preso no trânsito é que quando tiverem fortes chuvas assim somente saia de casa se for realmente necessário.

Webjornalismo
Cosplay na cidade do chapéu e da bota?
Em Goiânia está popularizando eventos de HQs e cosplay
Por: Nilma Oliveira
Nos últimos dias 10 a 12 de maio ocorreu o evento Mandrake na Vila Cultural Cora Coralina, um evento totalmente voltado para divulgação de Histórias em Quadrinhos (HQs) e disputa de cosplays. Há alguns anos, vem crescendo o número de leitores de HQs e pessoas que gostam de se vestir de cosplay. Goiânia é uma cidade conhecida pela música sertaneja e pela sua cultura tradicional o que nos leva a pergunta, como esses eventos de cosplay tem se popularizado em nossa cidade?
O cosplay pelo olhar geográfico é um movimento cultural que consiste na prática em vestir trajes e interpretar personagens ficcionais. A cultura cosplay é uma mescla entre o Japão e os EUA. Ele se tornou uma prática cultural que consiste em gerar entretenimento, se utilizando do vestir e da interpretação de personagens de ficção, como desenhos animados, games, animes, mangás, filmes, livros, HQs etc. Ele se difere de outros movimentos como o carnaval e bailes de máscaras, que são tão tradicionais, memoráveis ao longo da história, e que também se utilizam demáscaras e fantasias no intuito de promover brincadeira e descontração.
Goiânia assim como outras cidades brasileiras pelo olhar geográfico vê isso como algo inovador. Trazendo novas formas de cultura para a população goiana. Em média os cosplays são em sua maioria, jovens adultos que se reúnem em torno de um prazer, gosto estético e características pessoais. Para alguns é uma forma não só de entretenimento mais uma forma de ganhar dinheiro, como por exemplo o ator e diretor de teatro Adriano Soares, que disse "eu comecei com o teatro tem 16 anos, muitos diziam que eu parecia o personagem Salsicha, o original do filme Scooby Doo, desde então comprei a ideia para ver se cresço na internet como personagem e assim apareço em eventos de cosplays".
No evento Mandrake houve diversas pessoas que estavam de cosplay, no próprio evento teve disputa de qual seria o melhor cosplay, o que levou a várias premiações e entretenimento ao público. Thaiza Montine professora de ciências que estava no evento e com o cosplay da personagem Wei Wuxian do mangá Mo Dao Zu Shi, relatou ter começado de forma diferente no mundo do cosplay, ela comentou que um dia em sala de aula teve a ideia de começar a fazer cosplay para prender a atenção dos seus alunos na forma de fazê-los aprender, "eu usei como meu projeto de mestrado, eu escrevi um livro todo voltado em histórias em quadrinhos de como aplicá-los em sala de aula, para ciências em si", ressaltou ela.
Com isso conclui que o cosplay não está somente vinculado aos eventos, mas está no dia a dia de quem gosta. Não é somente uma fantasia para se usar de vez enquanto mais uma nova moda de se usar no cotidiano.
Webjornalismo
Dá para andar estiloso usando brechó?
Por Nilma Oliveira
Em Goiânia se encontra uma variável lojas de brechó, onde se pode comprar roupas novas e usadas. Na última quinta-feira (30) houve o encontro de brechós no setor Marista em Goiânia, onde mais de 12 lojas se reuniram em uma calçada levando moda circular e sustentável, com entrada gratuita.
A ideia de realizar esses encontros, é uma maneira em que as pessoas possam encontrar roupas ao seu gosto e comprem com um preço acessível. Moradores da cidade, relataram estarem apaixonados por cada evento e gostar de participar de cada um deles, sempre comprando roupas com boas qualidades e com preços em conta.
Cada stand leva opções variadas de roupas, como roupa infantil, feminina, masculina, não a problemas em se usar roupas que já foram consumidas. Muito pelo contrário é uma forma vantajosa de ajudar o meio ambiente e de reduzir o desperdício.
Há quem diga que, somente comprando roupas de alta marca ou em lojas renomadas pode-se fazer combinações onde se possa ficar estiloso. Porém há outros que dizem que pode sim se vestir adequadamente e de forma estiloso, comprando em brechós e de maneira econômica. Essa tem sido a moda que muitos goianos têm adotado, e sim, dá para andar na moda e estiloso usando roupas de brechó.
Algumas indicações de brechós: Bagatelo Brechó, Bazar d'luxo, Peça Rara, Empório Armário Brechó e Suqueria, Curiosidades Brechó.
Texto usado no site "Oia a Arte" para ativiade avaliativa de Webjornalismo
Redação Jornalística I
Caminhada divertida
Som, festa e alegria tomaram conta das ruas de Goiânia
Por: Nilma Oliveira
Na quinta-feira (30), o pastor Aluízio Silva desafiou os membros da sua igreja a fazerem uma caminhada em comemoração aos 25 anos de ministério Videira. Mais de 15 mil pessoas participaram dessa caminhada, que contou com a participação da banda Videira Music e do cantor Davi Silva.
A caminhada teve seu percurso iniciado na Av. T7, 1643, passando pela Av. Assis Chateaubriand, Av. Alameda dos Buritis, R. Gercina Borges Teixeira e com destino final na Praça Cívica. O pastor deu início à caminhada como uma comemoração pelos 25 anos de fundação da Igreja Videira. Muitas pessoas vieram de todos os lugares, como no caso da estudante de 17 anos, Eloísa Mota, que saiu da cidade de Trindade para participar da caminhada. "O que me motivou a sair da minha cidade e ir na caminhada de 25 anos da Videira foi fazer parte de toda uma história que está nesse mundo há mais tempo que eu. É um enorme privilégio fazer parte de algo tão grande que começou antes mesmo do meu nascimento, uma história que foi contada de geração a geração. Realmente um marco em nossas vidas", relatou Eloísa.
A programação foi iniciada às 17 horas e teve uma duração estimada de quase 2 horas. Houve muita animação com o trio elétrico que estava no meio da multidão, a banda estava tocando várias músicas e hinos espirituais. "Em continuidade as comemorações que estamos fazendo pelos 25 anos de ministério Videira, decidi fazer uma caminhada com os irmãos. Quero que em todo esse percurso possamos louvar com o trio elétrico, para abençoarmos a nossa cidade. Quando chegarmos lá, eu irei ministrar uma palavra profética e teremos um momento para orarmos por Goiânia", afirmou o fundador do ministério, pastor Aluízio Silva.
O intuito era que todos fossem de camiseta branca para representar a paz, porém houve aqueles que deram um jeito de fazer a festa ficar ainda mais animada. Teve alguns que usaram fantasias, levaram foguetes e muito mais. A líder em treinamento de jovens Evelym Dias disse, "ter a oportunidade de participar de um evento como esse, é saber que eu e todos os jovens que participaram do evento fazemos parte de uma comunidade que pode trazer benefícios para a cidade e para igreja. E como isso traz benefícios para os jovens dessa geração, é justamente dá- los a oportunidade de colaborar de alguma forma com a cidade, visto que a caminhada foi um evento social, visto que juntou pessoas de diferentes cidades, para interagirem entre si."
A igreja
A igreja começou em uma pequena garagem com 50 pessoas na casa do pastor Naor Pedroza, que é pastor e fundador do movimento Radicais Livres. Hoje a Igreja Videira já está em mais de 10 países com 1300 igrejas implantadas através de células que acontecem na casa dos membros. Além de igrejas, foram implantadas também Escolas Videiras em alguns países. Os membros dizem que isso é uma grande conquista por serem somente 25 anos.
A igreja também tem um trabalho voltado para as crianças, a pastora Márcia Silva esposa do pastor Aluízio é quem lidera esse trabalho, que tem alcançado crianças de todo o mundo e é chamado de Radicais Kids. Assim como o projeto com crianças, a Igreja Videira tem um movimento muito intenso com jovens, não somente em Goiânia, mais em todo o país. Os Radicais Livres é uma movimento que tem alcançado milhares de jovens que muitas vezes estão perdidos em vícios de drogas e até mesmo no mundo do crime. Há também cursos em que o ministério disponibiliza para os seus membros, o Curso de Maturidade no Espírito (Cursão), o Curso de Treinamento de Líderes (CTL) e o Curso de Seminário Pastoral, que quando concluído você recebe uma festa de formação e um diploma.
Outros eventos para 2024
Neste ano, o pastor Aluízio tem se programado para fazer vários eventos, como a caminhada que aconteceu. O alvo deles nesse ano é fazer muitas festas com os membros para comemorar o aniversário da igreja. O maior alvo deles é tentar fazer uma conferência em setembro no Estádio Serra Dourada, onde pessoas de vários países possam vir para Goiânia escutar pregações e serem edificados.
Ao final da caminhada todos estavam alegres e dançantes, carreatas de várias cidades fizeram a festa, dançaram, cantaram, oraram e gravaram tudo para postarem em suas redes sociais. O sentimento de alegria por cada feito da igreja foi o que tomou conta de algumas ruas de Goiânia neste feriado.
História do Jornalismo
RESENHA DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER
A história por trás de um filme interrompido
Por: Nilma Oliveira
Cabra marcado para morrer é um filme que foi feito pela direção de Eduardo Coutinho em 1984, há quem considere que esse filme foi um despertar na década de 60. Um filme que contaria sobre a morte de João Pedro Teixeira porém suas filmagens são interrompidas pelo golpe militar de 1964. É um documentário feito 20 anos depois da ideia inicial de um documentário, Eduardo Coutinho vai atrás de Elisabeth Teixeira, viúva de João Pedro e dos outros participantes do filme que foi interrompido.
O início desse filme começa em preto e branco, o que acaba trazendo uma ênfase a miséria, ele trás a questão da luta do trabalhador rural em situação desfavorecida. A população rural vivia em péssimas condições de moradia. Esse filme contextualiza a luta pela posse de terras, essa luta existe porque a miséria existe. João Pedro Teixeira é assassinato por ordem de latifundiários. Eduardo Coutinho tenta entender o porquê o "cabra foi marcado para morrer" quer dizer, porquê pediram a morte dele. Em sua volta com o documentário a quase 20 anos depois da ideia inicial, ele retoma as gravações porém não tira o fato que todos esses anos ocorreram. Uma parte de sua equipe foi presa, outra parte tiveram que fugir, então não teve como terminar o documentário. Ele incorpora os anos passados e faz um documentário do filme que ele estava fazendo em 1962. Ou seja, não se tratava do que aconteceu e o por que João Pedro Teixeira foi morto, mas também sobre um documentário que não foi terminado. O foco do filme foi direcionado a vida dos trabalhadores após o desligamento, já que a maioria deles estava ajudando Eduardo Coutinho a produzir o filme em 1964.
Esse documentário é considerado um dos maiores documentários já feitos no país, um dos filmes mais famosos de Eduardo Coutinho. Ele é um filme que vale a pena assistir, onde você vai refletir sobre ele, que mostra a grandeza do cinema e a inteligência de um cineasta que entende como fazer cinema e como falar sobre ele. Não é só sobre falar de história mais o que de fato cinema é.
Redação Jornalistica II
CRÔNICA
Uma quarta-feira muito comum
Por: Nilma Oliveira
Às cinco horas da tarde, hora de ir para a faculdade, um percurso que seria de 45 minutos se torna um percurso de 1h30. Ao entrar no ônibus, me deparei com uma amiga que estava indo para o mesmo destino. Após nos distrairmos conversando, o ônibus parou e desligou. Um sentimento de angústia e desespero tomou conta do meu coração. Aysla disse: "Só falta chegarmos atrasadas na faculdade." Depois do primeiro ônibus parar duas vezes, chegamos ao primeiro terminal.
Ao chegar no terminal, percebemos que o outro ônibus havia saído, e tínhamos perdido o transporte. Após um longo tempo de espera, nos deparamos com um trânsito horrível. Durante esse tempo, estávamos observando o horário do próximo ônibus pelo aplicativo. Chegando no próximo terminal, vimos que faltavam apenas 2 minutos para o ônibus que levaria ao destino final, a faculdade. Eu disse: "Se a gente correr, vamos conseguir pegar." Porém, com tantos ônibus atrasados, ficamos presas no Eixo Anhanguera. O terminal estava cheio de ônibus desembarcando, e não havia como descer. Mais uma vez, perdemos o ônibus. Tivemos que esperar mais 40 minutos no terminal até finalmente chegar à faculdade, e chegamos 30 minutos atrasadas.
Após a aula, era hora de ir embora. Mais uma vez, acompanhei o ônibus pelo aplicativo, que novamente estava atrasado e com o horário errado. No ponto de ônibus, vimos de longe dois ônibus vindo em nossa direção. O primeiro passou e não parou. Ana Luiza, desatenta, não viu o outro ônibus e gritou: "Gente, o ônibus!" O que tirou uma gargalhada das pessoas ao seu redor. E assim, mais uma vez, um percurso que deveria ser de alguns minutos se transformou em horas. Já era tarde da noite, todos cansados, e o percurso para voltar para casa foi, mais uma vez, desafiador.
Redação Jornalística II

Ancestralidade e negritude
Sou um, mas não sou só
Por: Amanda do Amaral, Nilma Oliveira, Patrick Leal e Sarah Mendes
A escravidão no Brasil foi um ato cruel e desumano que marcou a história dos negros no país. É um tema delicado, especialmente porque suas sequelas parecem intermináveis, até os dias de hoje. Não podemos falar sobre negritude sem primeiro estabelecer um contexto histórico que abranja a escravidão, a abolição e como a instituição escravista persiste na forma de racismo estrutural.
Ser negro em um país com esses paradigmas significa ser mais pobre que os brancos, ter menos escolaridade, ser tratado de forma inferior, ter menos oportunidades e dificilmente chegar ao poder público para ocupar cargos de destaque. É ser vítima das mais brutais formas de violência, ser preso por engano, afinal, um negro não pode ter grandes oportunidades, sofre discriminação até o dia de sua morte. São sequelas como essas que a escravidão, iniciada por volta de 1530, trouxe, começando com os nativos brasileiros que foram gradualmente substituídos por escravizados africanos trazidos à força pelo tráfico negreiro.
Não importava para os "senhores" portugueses se essas pessoas tinham uma vida, elas eram levadas à força e submetidas a trabalhos que colocavam suas próprias vidas em risco. É válido lembrar que os indígenas foram os primeiros a serem escravizados, quando passaram a cultivar a cana-de-açúcar e desenvolveram o engenho para produzir açúcar, necessitando mais mão de obra e tornando-se um ciclo de torturas, trabalho precário, agressões físicas e sexuais. E foi a escravidão que criou a separação entre o negro e o branco, dois mundos opostos, um na posição de senhor, de chefe, e outro na posição de escravo, sem valor.

A Lei Áurea foi assinada — com muita demora, o Brasil foi o último país a "abolir" a escravidão — por Isabel do Brasil, princesa imperialista que era filha de Dom Pedro II. Criou-se um mecanismo que não deixava explícito que era mais uma senzala e que mais uma vez os negros viveriam em um lugar de subordinação. Os negros puderam deixar a escravidão, mas eles foram deixados de lado, não ganharam terras, não tiveram direito à educação e sequer foram indenizados pelos anos de cativeiro. Não se deve colocar isso nas costas de uma pessoa branca, ela não libertou nenhum escravo, ela não lutou por eles, ela apenas assinou um papel. A invisibilização da negritude começou ali, em todos os lugares menos em cadeias, manicômios e atualmente, nas favelas. É válido ressaltar que todo esse trabalho árduo — de libertação dos escravos pós-lei — deve ser atribuído aos negros, aos fugitivos que formavam os quilombos e aos que suportaram até o último momento.
Ser preto no Brasil era ser escravo, mas para provar sua liberdade enquanto escravo tinha que ser comprovado. Nisso, percebemos o quanto o povo negro lutou e continua lutando pela equidade. E, dentre as variadas lutas, conseguiram levantar sua bandeira a partir da Lei 10.639/03, onde se entrevê que o negro não deve ser visto somente como peça de trabalho, ou seja, a partir do tráfico negreiro, mas sim mostrar que este negro tem uma cultura, uma História a ser estudada, e foram os construtores do país chamado Brasil.
A "ponta do iceberg" começou ali, na escravidão que resultou no racismo que muitos sofrem, nos crimes disfarçados de piada, na desigualdade, no pouco ganho, no fardo que é ser negro num país onde é morto um a cada 23 minutos. Segundo o Atlas da Violência, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), revelou que em 2022, quarenta e seis mil, quatrocentas e nove pessoas foram assassinadas no Brasil naquele ano. Desse total, 76,5% tiveram como vítima pessoas pretas e pardas.

Racismo Estrutural
Uma das consequências que perdurou da escravidão, após a segregação de negros e brancos, foi o racismo estrutural. É até cético afirmar que homens brancos, heteronormativos, não são privilegiados, pois toda a construção de uma sociedade foi feita para eles e pensada para que eles dominassem. Pessoas negras representam 56% da população do Brasil, ficando atrás apenas do continente africano.
Em 1824, a Constituição afirmava que a educação era um direito de todos os cidadãos, o que não incluía os povos escravizados. Posteriormente, leis aprovaram a vinda de colonos europeus para o Brasil, com o objetivo de branquear a população. A primeira vez em que a legislação contribuiu efetivamente para a democracia racial no Brasil ocorreu apenas em 1989, quase um século depois, quando a Lei Caó tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível.
Atualmente, ainda há muita luta para reconhecer crimes raciais. Com o aumento do consumo da internet, tem voltado a ser normalizado cometer crimes como se fosse uma terra sem lei. O que se vê são comunidades voltadas a atacar minorias e cometer crimes cibernéticos, fazendo discurso de ódio parecer cotidiano. É um ponto interessante de ser discutido, tendo em vista que tudo o que fazemos envolve a internet. Podemos citar a cantora Ludmilla, que frequentemente é alvo de piadas, fotos editadas como se ela fosse um animal — macaco — e diversos ataques à sua cor de pele. Esses ataques foram tão longe que, em uma premiação, a artista sofreu injúria racial.
O racismo estrutural é apenas um dos inúmeros impactos que ficaram como uma bagagem quando se fala de crimes raciais. Para combater algo estrutural, dependemos de políticas que ajudem pessoas negras. É preciso que o Brasil seja reconhecido como um país racista, como um país doente que fere minorias.
Impactos Sociais
Quando falamos sobre os impactos que a escravidão teve no Brasil, todas, sem exceção, são negativas. É algo profundo, enraizado, e apesar de ser o segundo país com mais negros, o racismo vem em uma crescente incontrolável. Na Primeira República, havia a ideia do negro como criador de desordem. Acreditava-se que, com a miscigenação, o sangue "puro e limpo" iria se sobressair sobre o "sujo e mal" das pessoas negras, promovendo o branqueamento, o que é chamado de eugenia. Em 1930, a ideia era ter uma segregação, onde cada um deveria ocupar seu devido lugar sem se misturar, mas sempre mantendo pessoas não brancas em uma posição inferior.
Um dos maiores exemplos de impacto na sociedade foi a cultura do branqueamento, como o blackface, que surgiu por volta de 1830. Os estadunidenses e europeus — homens e mulheres brancos — não queriam ver pessoas negras em papéis de destaque televisivo ou teatral. Com isso, os atores e atrizes se pintavam de preto e performavam — com cunho racista — a forma como eles pensavam que um negro agia, sempre de uma forma animalesca, exagerada, imitando sotaques e comportamentos. O Brasil não fugiu muito dessa realidade. A famosa "nega maluca" é um personagem dotado de estereótipos racistas que, até hoje, é vestido como fantasia de carnaval ou para fazer alguma "piada". Trata-se de uma mulher negra fictícia, criada por brancos, que imaginam mulheres pretas como ridículas, sempre como objeto sexual, fazendo sempre alusão a como elas eram enxergadas na escravidão.

O Teatro Experimental Negro (TEN) foi fundamental para o combate dessa prática. O ativista Abdias do Nascimento, em 1944, fundou o TEN, que combatia o racismo nas artes e buscava valorizar a cultura africana, após ver uma peça no Teatro de Lima no Peru que não representava o seu povo, com a prática do blackface. O projeto foi a primeira companhia de teatro a colocar negros no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com criações que representavam a população negra, histórias que contavam o que os negros sentiam e com protagonismo negro.
Importância da Educação Racial
A educação tem um papel fundamental para qualquer um. É um período muito importante para a construção da nossa própria identidade, onde vamos formar outro círculo social além da família e, o mais importante, onde estudamos sobre a história do Brasil. A Lei 10.639/03 obriga as escolas de ensino fundamental e médio a ensinarem sobre história e cultura afro-brasileira.
Para a professora do Ensino Fundamental Genivalda Matos, a história negra do Brasil é algo que não deve ser somente fixada no currículo escolar, mas sim, como ampliação. "Na maioria das vezes, não são colocadas como prioridade dentro da escola, deve ser vista como um todo. Sabemos que a história brasileira sempre enfrentou desafios", afirmou.
Infelizmente, para muitas crianças negras, pode ser um período muito difícil, que toma proporções que afetam essas pessoas até os dias atuais. São onde essas crianças têm o seu primeiro contato com outras e vários questionamentos começam a surgir, algumas vezes carregadas com muito preconceito. "Se a relação entre família e escola andasse juntas, tudo seria muito diferente. Não teríamos crianças, jovens e adultos com grandes preconceitos", disse Genivalda Matos, que concluiu dizendo: "Se todos tivessem empatia um com o outro, todos teriam reciprocidade".
Representatividade na mídia
Outro grande impacto social é a representação da população negra em vários meios de comunicação. Não é de hoje que a negritude brasileira se queixa por não ocupar espaços de destaque, da televisão até espaços políticos. Essa construção é datada de preconceitos, de racismo. Por que essas pessoas são vistas? E quando são, têm que se provar a todo momento que merecem estar lá?
A escravidão criou uma imagem de que os negros só são bons se estiverem na posição de serventia. Qualquer busca por uma melhoria de vida torna-os pessoas arrogantes, sem caráter, ou pior, se tornam "negros de alma branca". É necessário que essas histórias sejam contadas e não só de dor e sofrimento, mas também como é importante que elas se vejam representadas em todos os meios midiáticos.
A graduada em Língua Portuguesa e criadora de conteúdos voltados para a cultura e músicas que recontam a história da população negra, Carolina Viana, gosta de pensar que se existe cultura é porque pessoas pretas existem. "Tudo o que pensamos sobre cultura diz respeito à história da população preta. Então fazer cultura, também é uma forma de resistir às demais opressões que nos são acometidas", ressaltou.
Pessoas negras têm mais dificuldades para se manterem na mídia. Como dito anteriormente, um erro é capaz de acabar com a vida dessas pessoas, enquanto para uma pessoa branca, não tem o mesmo peso. Para se manterem como criadores de conteúdo é mais difícil ainda. "Começa quando o próprio algoritmo deixa de engajar suas publicações que são voltadas para a raça", disse Caroline Viana, que concluiu dizendo: "De modo geral, criadores de conteúdo negros, independentemente do número de seguidores, quando comparados a uma pessoa branca, fecham parcerias em um número bem inferior".
Movimento Negro
Assim que a Lei Áurea foi promulgada, a população negra brasileira passou a enfrentar um novo desafio: a luta contra a segregação racial e desigualdade social. Ao final do século XIX e durante uma parte do século XX, alguns jornais e revistas voltados aos negros circulavam pelo país. A chamada Imprensa Negra Paulista, enquanto movimento jornalístico, era o agrupamento de todos esses periódicos publicados, tinha como intuito propor discussões e documentações acerca da vida negra em um geral, como a identidade, cultura, história e discriminação também. Esse período ficou marcado como o primeiro período do Movimento Negro, pois, foi dentro deste contexto que surgiu o primeiro movimento negro no Brasil: a Frente Negra Brasileira (FNB), em 1931, no centro de São Paulo. Muitos historiadores e intelectuais consideram essa organização como a maior e mais importante organização de ativismo negro no Brasil, visto que foi a primeira a demonstrar a ação coletiva de pessoas negras; elas exigiam a igualdade de direitos e participação dos negros na sociedade a partir de discussões em praças públicas e protestos, proferiam palestras e cursos, publicaram o jornal A Voz da Raça (entidade que oferecia atividades aos sócios e melhoria das condições de vida da população negra), criaram símbolos identitários e grupos de teatro, etc. Mais tarde, a FNB também viria a se tornar um partido político, mas que viria a ser dissolvido em 1937 na criação do Estado Novo, no governo ditatorial de Getúlio Vargas.
O segundo período do Movimento Negro foi voltado à estratégia de cultura de integração, acreditando que, através das vias educacionais e culturais, desmistificando o complexo de inferioridade racial e reeducando o pensamento de pessoas brancas, o preconceito seria extinto. Então, em 1945, com o fim do Estado Novo, líderes negros voltaram a se movimentar, promovendo movimentos vanguardistas artísticos, além congressos e convenções da raça negra, o que contribuiu para que muitas entidades viessem a se formar e se tornar importantes na história pelos direitos civis dos negros. A União dos Homens de Cor (UHC), por exemplo, rede fundada em Porto Alegre pelo farmacêutico e articulista João Cabral Alves e liderada por José Bernardo da Silva e Abdias do Nascimento, visava "elevar o nível econômico e intelectual das pessoas de cor em todo o território nacional, para torná-las aptas a ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os setores de suas atividades", como é expresso no primeiro artigo de seu estatuto.
Já o terceiro período, com a base criada nos períodos anteriores, pôde manifestar a busca pela igualdade na diferença, se voltando ao afrocentrismo e às influências pelos direitos civis nos Estados Unidos. O movimento desse período pauta a escrivão e o sistema capitalista como a marginalização do negro e acredita que o caminho para dar voz aos negros e diminuir a discriminação é através da política. Dentro deste cenário, houve formação de comitês de base e de movimento nacional, como é o caso do Movimento Negro Unificado (MNU). O MNU foi formado a partir de uma manifestação no Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, após frequentes episódios racistas na grande cidade. O seu principal propósito era (e ainda é, pois, a organização ainda existe nos dias atuais) derrubar o mito da democracia racial no país, partindo da premissa de que a sociedade faz com o negro sofra continuamente com o preconceito, a falta de oportunidades educacionais e trabalhistas, a violência policial e a permanente – embora velada – colonização. E, por isso, o MNU foi responsável por grandes conquistas, como: a criação do dia Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares; a Lei de Cotas do Ensino Superior, reservando vagas étnico-raciais às pessoas que se autodeclaram como indígenas, negras, pardas, amarelas e quilombolas; e a inclusão de povos marginalizados na Constituição de 1988, na qual, inclusive, o racismo foi criminalizado no Brasil. Outro destaque importante também foi o retorno da Imprensa Negra, com os jornais SINBA, propondo uma união entre a sociedade de Intercâmbio Brasil-África; Nzinga, em prol dos direitos das mulheres negras; e da Revista Ébano, incluindo pessoas negras no ambiente corporativo.
O quarto e último período a nossa geração ainda está o vivendo, já que o seu início se deu em 2010 em diante. Embora muitas evoluções já tenham acontecido, comparando à quando toda essa luta começou, a busca pelo espaço dos negros na sociedade e pela extinção de todo tipo de violência contra estes ainda é contínua, pois estamos longe de sermos um povo igualitário. O Brasil foi o país que manteve por mais tempo a escravidão de negros como mão de obra e isso pode ser refletido na sociedade atual, em que milhares de pessoas têm menos acessos básicos, menos poder econômico e os seus direitos permanecem sendo violentados. Desse modo, enquanto o Brasil não se reconhecer como racista, o racismo continuará em nosso cotidiano, seja em nossas falas e piadas estruturais, na falta de pessoas negras em nossos ciclos sociais ou até mesmo nos nossos ambientes de trabalho, em nossas agressões veladas ou não, etc. E aqui entra outro ponto de muita importância, que é o fato de que essa luta não é – ou não deveria ser, pelo menos – travada somente pelas pessoas negras. Muito pelo contrário, ela é travada pela força e união de pessoas brancas, que podem usar as suas vozes e privilégios em prol da causa.
Pautas Sociais
• Projetos de Leis
Uma pesquisa realizada pelo PoderData, em 2023, aponta que 76% dos brasileiros dizem existir racismo no Brasil, enquanto 14% consideram que não há preconceito contra pessoas negras e 10% preferem não palpitar sobre o tema. Dentre os que reconhecem que existe racismo no Brasil, 53% consideram não ter discriminação e 36% assumem ter preconceito, e isso é assustador. Segundo a Folha de São Paulo, os casos de racismo aumentaram em 127% no último ano, assim como a injúria racial. E é impossível não culpar a ineficiência e, especialmente, negligência da justiça brasileira.
Apesar da Carta Magna contar com milhares de artigos e leis antirracistas – como o Artigo 24, que estabelece que todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito a igual proteção, ou como a Lei 7.716/89, que criminaliza o preconceito de raça e de cor, por exemplos – mais da metade dos brasileiros já presenciou atos de racismo. E esses atos podem acontecer de diversas maneiras, desde uma forma direta à uma indireta. Pesquisas apontam que a taxa de desemprego entre jovens negras é três vezes maior ao dos homens brancos, assim como os casos de homicídio contra pessoas negras são mais frequentes. Mulheres negras sofrem mais violência doméstica e obstétrica do que mulheres brancas e a falta representatividade na mídia é assustadora; o âmbito jornalístico, por exemplo, conta com apenas 30% de jornalistas negros ou pardos. Além, é claro, das falas, piadas, canções que crescemos ouvindo e continuamos reproduzindo em nossas relações sociais. Como é o caso de expressões como "nega do cabelo duro", "criado-mudo", "da cor do pecado", "denegrir" a imagem de alguém, e por aí vai.
Também é importante frisar que o preconceito racial não é sofrido apenas por pessoas negras, mas igualmente pelas pardas. De acordo com o Censo de 2022, quase 46% da população brasileira, cerca de 92,1 milhões de pessoas declaram-se como pardas, sendo concentrado o maior o percentual no estado do Pará. E, apesar do grande número, essa comunidade é invisibilizada e discriminada. O estudante de letras (tradução e interpretação) Carlos Antônio Tomé relata que, durante toda a sua vida, teve dúvidas em relação à sua identidade. Pois, apesar de sua descendência ser negra, a sua pele não é tão escura, mas também não tão clara (e, por isso, sempre foi chamado de "café com leite"). Quando, finalmente, se reconheceu como uma pessoa parda, a partir de uma reportagem da BBC News, não se sentiu representado na sociedade, mas sim, invalidado. "Eu sinto uma certa invalidade das pessoas quando digo que sou pardo, até uma surpresa ou repreensão por parte delas", ressalta. Alguns preconceituosos apontam que os pardos são apenas brancos que querem ser negros, outros apontam que são negros que querem fugir de sua origem africana. Por isso, o estudante também revelou que já sofreu alguns episódios de racismo, só que todos foram de uma forma velada. O que, no fim das contas, tem o mesmo efeito e estrago, como é exposto na música Bate a Poeira, da cantora e compositora brasileira Karol Conká.
A questão é que, sendo negro ou pardo, de forma velada ou não, essas discriminações moldam as pessoas que passam por elas. "O racismo, para quem sofre, é uma descoberta. Você não nasce preto achando que nascer é um erro, você descobre isso com o tempo. E, nesse processo, você também percebe que o problema que geralmente é apontado não é seu", destaca a publicitária Rayssa Moreira. Sendo assim, faz-se necessário refletir sobre o fato de que as leis políticas para advertir e punir nós já temos, o que nos falta é uma mudança radical de pensamento e posicionamento enquanto sociedade e seres individuais. "Eu diria que, 100% das vezes, a decisão de discriminar parte de quem pratica o racismo – e isso também é uma questão de educação!", complementa Rayssa, reforçando a ideia de que essa mudança radical de conscientização precisa começar, primeiramente, dentro dos lares e das escolas também.
• Projetos Sociais
Além de políticas públicas e educacionais, de conscientização familiar, a conscientização (e valorização) da negritude também é adquirida a partir de projetos sociais, que viabilizam a união entre pessoas negras e pardas. Ainda é um experimento novo, por isso muitas dessas pessoas não participam ativamente ou intencionalmente de algum projeto ou movimento negro, até por falta de informação ou de presença em suas cidades, mas é importante destacar isso, de todo jeito. Porque se enxergar no que você consome faz com que você realmente queira consumir.
Os projetos sociais podem ocorrer de forma presencial ou on-line, assim como podem se manifestar de diferentes formas. Seja a partir de palestras, oficinas, produções de conteúdo digital ou até mesmo em portais de estudos e informações. Em outras palavras, é tudo aquilo que, de alguma forma, impacta as relações da comunidade negra e contribui para melhor acolhimento e conhecimento. Já que é muito comum que pessoas negras e pardas, especialmente na juventude, não se identifiquem dentro da comunidade por causa da falta de representatividade, muito menos conheçam a sua história, as suas raízes.
Nesse sentido, podemos citar o projeto Ancestralidade Negra, cuja ideia é reunir histórias e construir futuros. O projeto conta com 13 membros voluntários, que organizam reuniões on-line, mas também oficinas móveis pelas comunidades do Rio de Janeiro, para que todos vários alunos interessados possam participar. As suas aulas, em grande maioria, são moldadas em ensinamentos voltados à comunidade negra e cultura africana. Então, os voluntários fornecem lanches e ensinam um pouco de arte às crianças como capoeira, boxe, teatro, música, desenho, etc, e ministram palestras sobre ancestralidade negra em escolas, gerando um orgulho cultural da própria pele e raiz. "Precisamos que nossos jovens tão conectados virtualmente, conheçam sobre seus antepassados, que não tenham vergonha da cor de suas peles e muito menos duvidem do que são", expõe a designer, fotógrafa e fundadora do projeto Maria Carius. O projeto é inteiramente gratuito, funcionando a partir de voluntariado e doações, e visa expandir, futuramente, para outras regiões do Brasil.

Dentro do âmbito da comunicação, como indicação, também podemos citar os projetos Afro Memória e Alma Preta. O Afro Memória é fruto de uma parceria de quatro instituições que, desde 2019, tem trabalhado para difundir e preservar acervos de ativistas ou de organizações de movimentos negros brasileiros que contribuíram para a história e trajetória negra. O processo técnico é feito de forma responsável, os profissionais higienizam, restauram, catalogam e digitalizam. Além disso, o projeto se enquadra na linha de pesquisa de cultura e identidade, buscando se relacionar com ONGs, movimentos artísticos e culturais, coletivos etc. Já o Alma Preta, criado em 2015, é uma agência de notícias e comunicação especializada no quesito étnico-racial do Brasil. A sua linha editorial não acredita em um jornalismo imparcial, mas aposta em um trabalho que seja transparente e posicionado, e a sua equipe conta com jornalistas negros, que produzem conteúdos sobre a realidade brasileira em diferentes formatos e perspectivas. A agência também conta com multimídia (conteúdos em áudio, vídeo, e redes sociais) e se atenta a dar voz à uma pluralidade de pessoas de diversas regiões, gênero, etc.
Ancestralidade
Nós crescemos ouvindo que o Brasil é um país plural, que somos miscigenados, que em nossas veias corre sangue de indígenas, europeus, africanos, asiáticos — mas, então, por que o nosso país é apontado como racista em tantas pesquisas? O principal ponto para estudar e entender sobre a ancestralidade é discernir que falar sobre povoamento, povoados não é falar sobre terra; é falar sobre herança, sobre as raízes que nos formaram, as nossas riquezas étnicas e culturais. Seja você branco, negro, pardo, amarelo ou indígena, não importa, você carrega dentro de si um pouco de cada povo que veio antes de você. E, talvez, você nem perceba isso intencionalmente no seu cotidiano, mas esse fator molda as nossas relações, as nossas crenças, a nossa cultura e a nossa identidade, principalmente. Focando na negritude em si, qual é o impacto da ancestralidade? O que a conexão com os antepassados significa? Como é possível honrar a afrodescendência no cotidiano? É isso que exploraremos nos tópicos a seguir, além de explorar vários significados dentro da ancestralidade.
• Cultura
O primeiro significado de ancestralidade é considerar que ela se trata de esferas socioeconômicas, políticas e culturais. A cultura africana é rica, de modo geral. Ela é moldada por elementos influenciados pelos povos europeus e do Oriente Médio, e tem significativas marcas em diferentes religiões e idiomas. A se tratar dos principais elementos, pode-se destacar: uma culinária marcada por pratos temperados com condimentos picantes e fortes, como o chakalaka na África do Sul ou o acarajé no Brasil; danças e músicas como forma de expressão cultural e comunicação com a espiritualidade, utilizando tambores e instrumentos de percussão; artes plásticas como simbolismos sociais e religiosos, como máscaras, esculturas e tapetes; além, é claro, da confecção de roupas coloridas, tecidos floridos, turbantes, etc.
Embora aqui, no Brasil, existam muitos desafios para a valorização da herança africana, é possível citar pessoas que se empenham neste propósito. Como a ativista, mestra em Filosofia Política e colunista da Folha de São Paulo Djamila Ribeiro, por exemplo. Ela é considerada uma importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres, sempre se movendo entre palestras históricas e escrevendo livros que, de alguma forma, contribuam na luta antirracista e feminista. Inclusive, o seu livro Pequeno Manual Antirracista, que fala sobre o racismo estrutural enraizado no Brasil, foi vencedor do mais tradicional prêmio literário do nosso país, o Prêmio Jabuti.
O grupo de dança Quilombo dos Anjos também, de Candiba (BA) e liderado por Carlúcia Alves, que contribui para a valorização da arte, resistência e cultura negra. Eles misturam danças tradicionais quilombolas e africanas com músicas populares contemporâneas que têm as suas raízes nos ritmos afro-brasileiros, como o axé, a capoeira, o forró, etc. A premissa inicial do grupo era a preocupação em criar opções para retirar os jovens candibenses da realidade de consumo de drogas e álcool, mas o projeto logo se expandiu, ficou conhecido nacionalmente por uma participação em um programa de televisão e hoje incentiva toda a comunidade negra se movimentar.
E a marca Naya Violeta, de Goiânia (GO), que produz peças autorais de moda afroafetiva com tiragem exclusiva. A estilista e designer Naya Violeta, que também é a fundadora da marca de mesmo nome, cresceu em quintais de tias costureiras, que criavam a sua própria maneira de se vestir, com referências afro-brasileiras. Ao crescer, percebeu que o mercado não oferecia essa representatividade e começou a trilhar a sua trajetória, produzindo e vendendo as suas roupas no boca a boca entre amigos até que se tornasse referência no mercado hoje e participasse até do São Paulo Fashion Week. Em suas confecções, ela sempre adota uma perspectiva pessoal, trazendo um olhar afetivo e um caráter narrativo, como é o caso da coleção Reluzente, além das influências místicas e manifestações culturais. Vale destacar também que, atualmente, a marca criou uma iniciativa chamada Zumbi Bag, como forma de protesto e denúncia voltada ao antirracismo em ambientes de consumo. Dentro da bolsa, há uma tag com a Lei N° 14.532/2023, que decreta a injúria racial como racismo, e um QR Code que redireciona para um canal de denúncia. 10% do valor das vendas das bolsas será direcionado aos projetos desenvolvidos pela Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo.
• Identidade
Já o segundo significado de ancestralidade é a identidade, a formação dela. Para devidamente entender o que é identidade, é preciso tentar em mente que este conceito vai muito além de características biológicas e fisiológicas. Se trata de experiências psíquicas e emocionais, de marcas construídas nas trajetórias dos antepassados e de se reconhecer em pessoas semelhantes. E uma das principais consequências disso é a construção da resistência e da autoestima dos povos.
Em uma breve e mais intimista pesquisa, a pergunta "o que significa ser preto para você?" foi colocada em pauta e foi possível identificar quão profundo o conceito de identidade é. Para alguns, significa ter e ser história. "Tudo que meus antepassados e pessoas da minha cor sofreram, passaram e conquistaram é marcada na cor da minha pele. E, mesmo ainda existindo tanto preconceito racial e tendo que lidar dia após dia, me orgulho de ser preta e poder ter a oportunidade de falar pelos meus que foram calados. Nascer preto em um país tão racista já é fazer parte da história, o significado disso é grandioso", pontua a mãe de santo Júlia Costa. Para outros, significa entender as diferenças, mas não se reconhecer como diferente. "Eu cresci em uma família de pessoas brancas e isso nunca foi um problema para mim. Na minha perspectiva, estava tudo certo em ser eu, mas a vida me ensinou que eu era diferente e que todas as coisas seriam mais difíceis por eu simplesmente ser. Acho que o processo é entender que as pessoas são, sim, diferentes umas das outras, mas isso sendo uma representação de singularidade humana, não de exclusão. No final, para mim, significa ser o que eu puder e quiser", ressalta a publicitária Rayssa Moreira. E para muitos, é um caminho de construção. "Eu comecei a me reconhecer como pessoa preta depois do meu cabelo cacheado. Antes parecia que eu só era uma pessoa morena com cabelo alisado, então, eu ainda não tinha consciência sobre o quanto precisava me reconhecer. E também, trabalhando com crianças. Comecei a perceber o quanto, em alguns lugares da sociedade, a gente não é vista da forma certa, a gente não está em lugares que realmente importam. Na escola, eu aprendi muito isso, porque as crianças não tinham o costume de ter 'tias' negras ou com cabelo crespo", expressa a social media Gabriela Martins.
Dentro deste cenário, é importante destacar que a identidade também é construída resgatando elementos, como: os cabelos cacheados e crespos, que possuem resistência e uma infinidade diversidade de modelos de cortes e penteados, e as tranças, que representaram uma ferramenta de sobrevivência durante o período de Escravidão e hoje podem ser vistas como arte, passando de geração em geração. "Sempre estive envolvido com a arte de trançar cabelos. Minha mãe, na juventude, trabalhava trançando cabelos e minhas tias faziam o mesmo. Então, a minha infância foi sempre vivenciando esses momentos de riqueza, aprendendo tudo que sei sobre as tranças", expressa o trancista Pedro Henrique dos Santos. Ele também ressalta que a maneira de honrar a sua ancestralidade, se reconhecendo como trancista, é fazer com que mulheres negras aceitem o seu cabelo natural, para enxergarem beleza em seus cabelos e não se renderem mais aos processos capilares com utilização de química, visto que não são nada saudáveis.
• Pertencimento
Por fim, o terceiro e último significado de ancestralidade a ser pontuado aqui é o pertencimento. Durante a pandemia, houve um aumento significativo da procura por mapeamento genético e genealogia no Brasil. Mas, mesmo se você não tiver conhecimento sobre toda a sua descendência ou a sua árvore genealógica, você sabe que as gerações que vieram antes de você lhe concederam heranças para além do seu DNA. Então, neste contexto, compreender a ancestralidade é passar a enxergá-la como uma travessia, uma conexão transcendental que ultrapassa os limites do tempo e do espaço.
Historicamente falando, e afetivamente também, o povo negro se pertence. Aquela famosa frase de que "só quem vive, entende" é certeira. Pois, só quem sofre a discriminação na pele pode dizer o que dói ou não dói. Só quem vive a violência e vê seus semelhantes sofrendo sabe a importância da luta contra a violência. Só quem não se sente representado na sociedade, seja pelos seus representantes políticos ou até mesmo em seu ambiente de trabalho, pode não aprender a se autoconhecer. E só quem cresce cercado de influências negras e informações sabe que a conexão é diferente. E este tipo de conexão até pode ser construída através da grande mídia, do cinema, da política – o que, obviamente, tem lá a sua importância –, no entanto, a maior parte é construída na simplicidade. Na simplicidade das relações construídas dentro dos lares, conversas difíceis (mas importantes), entre familiares que te ensinam sobre o que é existir na pele escura, memórias afetivas em quintais; dentro das pequenas comunidades também, aqueles que se dispõem a expor a sua dor e a ensinar sobre amor e valor às pessoas que precisam ouvir para se reconhecer, aqueles que têm o dom de transformar tudo em arte. É que existem afetos que apenas raízes podem proporcionar. A sua representatividade e o seu ato de ser começam ali. É por causa dessas relações que você continua lutando e existindo.
Povoada, uma canção de Sued Nunes, retrata justamente esse sentimento de pertencimento e identidade coletiva, em que cada pessoa é um ser individual, portador de suas próprias histórias, vivências e sentimentos, mas todos são um só, no fim das contas. Expressa no canto e nos batuques a presença, a força e a união dos povos que vieram antes de todos nós: "Quem falou que eu ando só? Nessa terra, nesse chão de meu Deus, sou uma, mas não sou só. [...] Tem em mim mais de muitos". E reforça a importância da multiplicidade do ser humano e das raízes e conexões, que levam informações e quebram paradigmas discriminatórios. Mas, acima de tudo, celebra a negritude. A sorte de poder ter uma alma aberta e simplesmente ser – e não somente ser, mas existir – e encontrar quem pode simplesmente ser com você. E poder honrar a tudo isso agradecendo.